Oh, Boca Grande

Oh, Boca Grande,
Que fome é esta que tens pelo mundo?

Tenho fome.
Tenho sede.

Tens que engolir até o sopro do vento,
até a voz daquele passarinho?

Tenho fome.
Tenho sede.

Por que os devora?
Deixe-os viver, livres do teu veneno.

Tenho fome.
Tenho sede.

Oh, Boca Grande, pare com isto. Pare de devorá-los, ela grita.
Mas não adianta, sua voz não é ouvida.

A Boca Grande continua a abrir-se enorme, incontrolável
e imunda, envenenando tudo ao seu redor.
Sua atmosfera é pesada e fria, é suja e macabra.
Diante de ti não restarão outros, se não os Cabisbaixos, os Doentes 
e os Envergonhados.

Doentes, os por ela envenenados.
Cabisbaixos, aqueles que a alimentaram - o pior dos venenos é formado
com a cor de seus pensamentos.
Os Envergonhados nada fizeram, como nunca fazem em nenhuma história.

Parem! Parem de alimentá-la, porque a Boca Grande é traiçoeira.
Para ela, não existem amigos ou inimigos.
Ela devora aqueles que tem fome.
Ela devora aqueles que tem medo.
Ela é pura fome,
pura ignorância,
puro desejo.

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